Conjunto Marcel – Mesa e Cadeiras

A Lenda do Conjunto Marcel

Há mais de dois séculos, nos salões secretos do Palácio de Fontaine du Lys, um enigma de madeira e ouro era guardado sob sete fechaduras. Chamavam-no de Rose Des Vents (Tabula dos Ventos) — não apenas uma mesa, mas um artefato criado para decidir o destino de impérios.

Conta-se que Louis Marcel, um mestre entalhador francês expulso da corte por ousar esculpir o rosto da rainha em madeira viva, desapareceu durante vinte anos. Quando retornou, trouxe consigo algo impossível: uma mesa feita de Jacarandá-da-Bahia, madeira que ninguém jamais havia visto fora das florestas brasileiras. Mas a dele... brilhava por dentro, como se tivesse absorvido o ouro da própria terra.

Dizia-se que cada prancha fora trocada por uma joia em um mercado clandestino de Lisboa, e transportada em silêncio, uma de cada vez, ao longo de uma década. Marcel trabalhava à luz de velas mergulhadas em âmbar, afirmando que o brilho amarelado o fazia “ouvir a madeira respirar”.

O tampo, composto por três camadas de vidro fumê, teria sido forjado pelos monges do Mosteiro de Saint-Lazare, que acreditavam que o vidro podia aprisionar ecos de vozes humanas. Por isso, nas noites silenciosas, afirmava-se que era possível ouvir as conversas daqueles que ali se sentaram séculos atrás — generais, filósofos, conspiradores e amantes proibidos.

As folhas de ouro 24k que adornam suas colunas foram moldadas a partir das coroas fundidas de quatro reis depostos. Diz-se que Marcel as obteve trocando um retrato que havia pintado com pigmentos misturados ao pó de rubis moídos. Uma cor que nenhum outro artista conseguiu reproduzir.

As cadeiras, quinze no total — mas uma desaparecida há mais de cem anos — foram esculpidas para representar os doze apóstolos do poder terreno, mais duas figuras simbólicas: o Tempo e o Silêncio. A cadeira ausente seria a do Silêncio, e acredita-se que ela só aparece quando a mesa reconhece alguém digno de sentar-se em seu lugar.

Após a morte de Marcel, a mesa foi lacrada em uma cripta sob o antigo Parlamento de Lyon, onde ficou esquecida até 1931, quando exploradores da Maison Boulvié descobriram fragmentos dos desenhos originais e decidiram recriá-la. Fielmente, sem modernizar nem suavizar nada.

O processo durou 8 anos, exigindo madeira proveniente das mesmas florestas originais, vidro lapidado nas mesmas proporções e folha de ouro aplicada exatamente como descrito nos manuscritos de Louis Marcel, com pincéis de pêlo de cisne embebidos em óleo de âmbar.

O resultado é o que hoje conhecemos como o Conjunto Marcel, a ressurreição de uma relíquia que transcende o conceito de mobiliário. Um monumento feito para reunir apenas aqueles que compreendem o peso de uma decisão.

Porque, segundo a lenda, quem se senta à mesa de Marcel e mente...
vê o próprio reflexo desaparecer do vidro.